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  • Foto do escritorJúlia Chaves

Hotel Tungstênio


Símbolo da mineração, o Hotel Tungstênio representa em seus traços arquitetônicos um período de grande ascensão e modernidade vivida pela cidade de Currais Novos nos meados do século XX. Construído para receber importantes personalidades nacionais e internacionais que vinham à cidade atraídos pelo metal Tungstênio, a edificação impactou a população currais-novense em sua inauguração com sua magnitude e arquitetura revolucionária para a época. Ao longo do tempo se tornou também um ponto central de encontro dos cidadãos. A edificação, que já foi considerada um dos melhores hotéis do Nordeste, viu sua atividade diminuir com o declínio na procura pelo Tungstênio na década de 1980, mas mesmo assim continua em atividade até os dias atuais se consolidando como a edificação hoteleira mais antiga do estado. Na década de 2010, a edificação passou por grande intervenção de conservação e modernização de sua estrutura, tendo seu nome modificado para Novo Hotel Tungstênio. Por causa de sua importância histórica, arquitetônica, social e cultural para a Currais Novos e para o Rio Grande do Norte, o Hotel Tungstênio é o tema de hoje da Quinta Potiguar.

A cidade de Currais Novos passou por diversas transformações econômicas, políticas e sociais após o início da exploração das jazidas de Scheelita em meados do século XX. A região que já era conhecida por possuir reservas minerais, se viu, durante a Segunda Guerra Mundial, centro do imenso interesse das tropas americanas pela compra da matéria-prima do metal Tungstênio, que era extremamente importante e muito utilizado na fabricação de máquinas modernas como aviões, armas, carros e etc. Foi diante deste cenário, que o Desembargador Tomaz Salustino, proprietário da principal fonte deste metal, a Mina Brejuí, chegou a se tornar um dos homens mais ricos do mundo, (Paiva, 2021) o que o levou a investir na cidade de Currais Novos com a abertura de empreendimentos ultra modernos para a época como a Radio Brejuí, o Aeroclube, o Cine-Teatro, campo de Pouso, campo de futebol e principalmente o famoso Hotel Tungstênio. É importante lembrar que por aqui, na Quinta Potiguar, nós já falamos mais sobre a história deste importante cidadão currais-novense e sua residência no texto sobre a Casa Des. Tomaz Salustino (link). O hotel Tungstênio foi projetado em 1953 pelo arquiteto mineiro Otávio Roscol e fazia parte de um grande plano urbanístico desenvolvido para a cidade, o que justifica a localização estratégica da edificação em um ponto central da cidade e em um terreno de esquina, no qual antes havia uma belíssima edificação eclética. Sendo assim, o prédio que tinha como função abrigar figuras importantes como políticos, investidores e empresários que vinham a cidade por causa do comércio do metal, foi inaugurado em 1954 com uma grande festa que parou a cidade. De acordo com relatos, a população local ficou impressionada com os traços arquitetônicos protomodernistas, pois este tipo de empreendimento, a escala da edificação e o estilo arquitetônico eram incomuns naquele período na cidade. Tudo isto, significava um grande rompimento com o passado, assim como, uma aproximação com um futuro promissor de grande progresso e ascensão. O Hotel Tungstênio foi considerado um dos melhores e mais luxuosos hotéis do nordeste, além de ser um ponto de encontro dos cidadãos que frequentavam seu requintado restaurante ou sua sorveteria, participavam das chamadas ‘domingueiras dançantes’ (SEMTURCN, 2012) ou apenas se encontravam nas calçadas da edificação que ficavam lotadas.

Fachada preservada do Hotel Tungstênio - Fonte: Página Facebook @NovoHotelTungstenio

Contudo, com a chegada da década de 1980 aconteceu um grande declínio na procura pelo metal tungstênio devido a popularização do uso de outros metais na fabricação das máquinas e oscilação nos preços internacionais da Scheelita. Com isso, a Mina Brejuí reduziu drasticamente suas atividades neste período, culminando no fechamento total no final da década de 1990. Consequentemente, a prosperidade vivida pela população de Currais Novos também entrou em declínio e o Hotel Tungstênio viu seus tempos áureos serem ultrapassados com o tempo. Mesmo assim, o hotel nunca encerrou suas atividades e na década de 2010 passou por grande intervenção e modernização de suas instalações que passaram a abrigar o Novo Hotel Tungstênio. Por estar em funcionamento até os dias atuais, o hotel se tornou o mais antigo em atividade no Rio Grande do Norte e se consolidou como o símbolo de um período de prosperidade proporcionada pela mineração do Tungstênio na região, sendo percebida pelos seus moradores como um monumento muito especial e importante para aa cidade.

Hotel Tungstênio em 1953 - Fonte: Raimundo Bezerra na dissertação Medeiros, 2010

Quanto à arquitetura, a edificação seguiu os traços do estilo arquitetônico protomodernista que se popularizou no RN durante a Segunda Guerra Mundial. O estilo trouxe em suas formas geométricas e limpas a ideia de modernidade. Aqui na Quinta Potiguar nós já falamos sobre outras edificações deste estilo como o Grande Hotel, o Cine Rio Grande e o Colégio Marista de Natal. Quanto ao Hotel Tungstênio podemos destacar a entrada da edificação feita pela esquina, coroada por marquise de concreto que acompanha o chanfro da fachada e elemento geométrico no platibanda que lembra um mastro de navio, cobertura escondida por platibanda liso apenas escalonado acima da entrada, a predominância de cheios sobre vazios, utilização de formas geométricas bem definidas e linhas retas, base da edificação destacada, paredes lisas sem nenhum adorno, esquadrias retas, compridas e finas com exceção do grande painel de vidro que valoriza internamente a escada de acesso aos quartos, além do uso de elementos vazados para a proteção das janelas do subsolo e letreiro com o nome do estabelecimento acima do platibanda inspirado no letreiro de Hollywood.

Elementos arquitetônicos - Fonte: editado pela autora

Em suma, o Hotel Tungstênio é uma edificação de imensurável valor histórico e patrimonial para o Rio Grande do Norte. A manutenção de seus traços arquitetônicos originais, através da contínua preservação e conservação da edificação, permitem que o hotel continue sendo uma lembrança concreta de um período tão importante para a cidade. NÓS PRECISAMOS PRESERVAR O NOSSO PATRIMÔNIO!!


 

Fontes:

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