top of page
Foto do escritorJúlia Chaves

Casa Des. Tomaz Salustino


A Casa da Família Salustino possui uma localização privilegiada no centro da cidade de Currais Novos, Rio Grande do Norte. Construída no início do século XX em estilo eclético, a edificação pertenceu ao Desembargador Tomaz Salustino, figura de grande influência econômica e social na cidade, sendo dono de várias propriedades na região, entre elas a famosa Mina Brejuí e o Hotel Tungstenio. Apesar de sua importância histórica e arquitetônica para a região, a edificação nunca foi aberta ao público e até os dias atuais pertence à família Salustino, que felizmente a mantém preservada. Porém, assim como o Casarão Eclético de Caicó, no qual já falamos sobre sua demolição aqui no Quinta Potiguar, a residência encontra-se sob a mira da especulação imobiliária, e desta forma, corre sério risco de ter o mesmo fim do casarão de Caicó. Diante deste risco e como forma de prevenir este desfecho através do conhecimento e valorização da história e arquitetura da edificação, a casa da Família Salustino é o tema da Quinta Potiguar de hoje.

A edificação foi construída no ano de 1929 em uma localização privilegiada na cidade de Currais Novos, na esquina das ruas Vivaldo Pereira de Araújo e Escrivão Antônio Quintino, em frente à Praça, que no futuro receberia o nome do proprietário da casa, Tomaz Salustino. O Des. Tomaz Salustino foi um visionário e figura importantíssima para Currais Novos. Formado em Ciências Júridicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Recife, Salustino retornou a Currais Novos se tornando o primeiro juiz da cidade e foi neste mesmo período que ele construiu a edificação eclética tema da Quinta Potiguar de hoje para servir como residência urbana de sua família. Posteriormente, Salustino virou deputado e em 1940, tornou-se desembargador, foi nesta época em que começou a se dedicar mais a extração da pedra Scheelita na Mina Brejuí, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo (PAIVA, 2021). O desembargador ainda ocupou o cargo de Vice-Governador do estado do Rio Grande do Norte entre 1947 e 1951, enquanto administrava suas empresas e propriedades, como a Rádio Brejuí, Hotel Tungstênio, um Cine-Teatro, um campo de pouso entre outros. O Des. Salustino faleceu em Natal no final de junho de 1963 e desde então a residência permaneceu com a sua família até os dias atuais. A casa é privada, não tendo sido nunca aberta a visitação nem tombada por órgão públicos. Mesmo assim, a família mantém os traços arquitetônicos originais da edificação preservados, o que à confere imensurável valor arquitetônico além de histórico.


Quanto à arquitetura a edificação foi construída no estilo eclético, estilo arquitetônico que se popularizou no Rio Grande do Norte no final do século XIX e início do século XX, simbolizando uma época de expansão e modernidade de um país recém republicano, e que se caracteriza pela mistura de vários estilos arquitetônicos do passado. Aqui na Quinta Potiguar nós já falamos sobre vários exemplares ecléticos, como o Casarão Eclético Demolido, o Teatro Alberto Maranhão, a Antiga Sede do Jornal "A República", a Estação Ferroviária Silva Jardim, e vários outros, que para conferir basta clicar no Blog Júlia Chaves Arq. A Casa da Família Salustino é um exemplar tipicamente eclético, nele podemos destacar a simetria, a cobertura escondida por um platibanda com formas orgânicas e bastante decorado, o recuo ajardinado em relação à esquina e à residência vizinha (este último possivelmente sendo adicionado uma edificação posteriormente), a decoração geométrica feita em massa nas paredes da fachada, o brasão ao centro com a data de construção da edificação, a entrada pela lateral, as colunas falsas decorativas, as janelas de madeira e vidro e a edificação mais elevada em relação à rua.


Atualmente, existe grande especulação imobiliária em torno da residência, tornando cada vez mais provável a demolição do imóvel e consequentemente a destruição de um importante exemplar da história e arquitetura da cidade. Não podemos deixar que mais este exemplar patrimonial do Rio Grande do Norte se perca pois edificações como este casarão eclético carregam em seus traços grande significado social, histórico, artístico e arquitetônico para seu povo e são portadores “[...] de uma mensagem do passado, mas que só tem sentido se for usufruído no presente [...]” (CARSALADE, 2013). Sem dúvida, sabemos que as necessidades da sociedade mudam ao longo do tempo e muitos dos usos dados as edificações perdem o sentido no presente, geralmente resultando no abandono do bem patrimonial. Em virtude disto, buscando ressignificar o uso da edificação sem descaracterizar ou perder as suas valiosas características históricas, existem diversas soluções arquitetônicas apontadas por profissionais capacitados que conseguem aliar a restauração com a reabilitação para um novo uso do bem patrimonial. A conservação de um bem histórico não é algo estático, como alguns acreditam, mas sim, pode ser a combinação do respeito histórico com a funcionalidade e progresso da atualidade.



Em suma, a Casa Des. Tomaz Salustino é um bem patrimonial de grande valor histórico e arquitetônico para o seridó e para o Rio Grande do Norte que corre sério rico de demolição e destruição da nossa história, assim como vários outros exemplares da nossa região. Felizmente ainda há tempo, a edificação encontra-se em ótimo estado de conservação e nós precisamos conhecê-la, valoriza-la e manifestar nossa indignação com a possibilidade para que este belíssimo exemplar potiguar continue contando a história através de seus traços e embelezando a cidade. PRECISAMOS PRESERVAR NOSSO PATRIMÔNIO.



 




686 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Gargalheiras

コメント


bottom of page