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Foto do escritorJúlia Chaves

Sede da Escola de Dança do TAM


Em 2021, aconteceu a reabertura de uma das edificações mais importantes da história do Rio Grande do Norte, após mais de 3 anos fechada para obras de restauro. Tombada desde a década de 1990, a atual sede da famosa Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão foi construída no século XIX para ser uma residência de um comerciante, posteriormente virou o palácio da província, tendo vários acontecimentos importantes da política potiguar ocorridos no seu interior e foi de uma das suas varandas que o recém nomeado Chefe do Executivo, Pedro Velho anunciou que a República havia sido instaurada. Por causa de sua importância histórica, política, cultural e arquitetônica para o Rio Grande do Norte, a Sede da Escola de Dança do TAM é o tema de hoje da nossa Quinta Potiguar.

A imponente edificação foi construída em meados do século XIX e apesar de não existir registros exatos da data de sua inauguração, sabe-se que pertencia ao comerciante Domingos Henrique de Oliveira que utilizava a edificação como residência para sua família. O prédio está localizado na atual Rua Chile, anteriormente conhecida como Rua do Comércio e principal logradouro da Ribeira durante o século XIX. Por ser uma das mais grandiosas edificações de Natal e ter uma localização privilegiada, em 9 de julho de 1869, o então Presidente da Província Pedro de Barros Cavalcanti de Albuquerque decidiu alugar a edificação e transferir a sede do Poder Executivo para lá. Com isso, pela primeira vez na história, a Ribeira possuía um prédio administrativo. Por ali, passaram dezenas de presidentes da província como também aconteceram vários encontros de abolicionistas e republicanos ao longo do tempo. Em agosto de 1889, o Palácio hospedou o Conde D’Eu, marido da princesa Isabel e único representante da coroa a visitar a cidade de Natal. Esta visita ilustre foi marcante para a cidade que recebeu o príncipe com toda pompa. Ironicamente neste mesmo ano, mais precisamente em 17 de novembro de 1889, o palacete foi palco da adesão do Rio Grande do Norte à Proclamação da República que ocorrera no Rio de Janeiro dois dias antes. De uma das janelas da edificação, o recém nomeado Chefe do Executivo, Pedro Velho saudou as pessoas que tomaram a Rua do Comércio e anunciou que o período imperial havia acabado. Pedro Velho teve um papel importantíssimo para a política e história do RN, onde dentre seus feitos fundou o jornal “A República” (link), no qual já falamos aqui na Quinta Potiguar. Em 1902, durante o mandato do Governador Alberto Maranhão, a sede do Governo do Estado foi transferida para o Palácio Potengi (link), atual Pinacoteca do Estado, que também foi tema aqui no Blog. Com esta mudança, a edificação foi vendida à firma pernambucana Tasso & Irmão e logo após foi adquirida pelo ex-presidente da Província, Miguel Joaquim de Almeida Castro. Durante a década de 1940, os herdeiros do ex-presidente venderam a edificação ao comerciante Galileu Pedro Lettieri que a transformou em estabelecimento comercial onde eram vendidas bebidas e gêneros alimentícios no andar inferior. Já os andares superiores, segundo alguns autores, a edificação funcionava como uma pousada e um prostíbulo. Durante a Segunda Guerra Mundial foi um ponto bastante frequentado pelos americanos, porém, com o fim da guerra entrou em decadência.

Foi apenas em agosto de 1989 que a edificação foi tombada pela Fundação José Augusto devido a sua importância cultural para o RN e na sequência foi doada para o Governo do Estado que a restaurou e a transformou em Museu de Arte Popular. Nos meados da década de 1990, o antigo Palácio do Governo passou a abrigar a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão (EDTAM), que deu acesso à formação e cultura para mais de 10 mil alunos que já passaram pelas suas salas de aula. Em 2018, após mais de duas décadas sem manutenção, foi anunciado que através de uma parceria entre o Governo do Estado e o Banco Mundial, a edificação receberia complexas obras de restauro. Porém, em 2019, as obras foram abandonadas pela empresa executora que apenas havia feito 11% do prometido. No ano seguinte, após várias negociações, as obras forma retomadas pela empresa PS Engenharia, sendo investidos R$1,9 milhões na obra. Em maio de 2021, finalmente a edificação foi reaberta e a EDTAM continua funcionando normalmente na edificação até hoje.

Quanto à arquitetura, a edificação possui em sua fachada o estilo neoclássico. Este estilo arquitetônico faz parte do movimento eclético que buscava resgatar os estilos arquitetônicos do passado, trazendo uma nova linguagem. Aqui na Quinta Potiguar nós já falamos sobre o Palácio Potengi e o Centro de Turismo (basta clicar nos nomes para ver os textos) que compartilham o mesmo estilo arquitetônico que a edificação sede do EDTAM. Desta forma, podemos destacar na edificação simetria, frontão triangular com abertura em forma de losango ao centro, paredes lisas com poucos adornos, a presença de colunas decorativas nas extremidades da edificação, encimadas por grande cornija entre o primeiro e segundo andar, esquadrias retas e ritmadas, sendo quatro portas no térreo que mostram a função comercial da edificação, quatro portas no primeiro andar protegidas por guarda-corpo contínuo em ferro e no segundo andar duas janelas também protegidas por guarda-corpo em ferro, porém desta vez não contínuo. Vale ressaltar que o último pavimento possui um pé-direito menor que os outros andares, até o fechamento desta matéria não foi encontrada nenhuma informação oficial que explique esse detalhe, entretanto, é possível que seja devido a uma adição posterior deste andar ou apenas uma menor importância deste pavimento em relação aos outros.

Em suma, a atual Sede da EDTAM possui uma importância histórica, política, cultural e arquitetônica imensurável para o Rio Grande do Norte e precisa ser valorizada e preservada pelos potiguares. A notícia de sua restauração e reabertura é extremamente animadora e gratificante. Esperamos que mais edificações históricas possam ter o mesmo destino do EDTAM e com toda a certeza, este exemplo é muito importante para o cenário da salvaguarda do patrimônio histórico do nosso estado. PRECISAMOS PRESERVAR O NOSSO PATRIMÔNIO!!


* Texto produzido por Júlia Chaves, Arquiteta e Urbanista. Para conhecer mais sobre outras edificações que compõem o patrimônio arquitetônico potiguar nos siga no Instagram @juliachavesarq, no facebook @juliachavesarq e vem conferir outros textos da Quinta Potiguar (link).

 

Fontes:

  • NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. 2. ed. Natal: IPHAN, 2020. 125 p.

  • MADRUGA; Woden. Lembrando Pedro Velho. Tribuna do Norte, Natal, 18 nov. 2018. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/lembrando-pedro-velho/430522. Acesso em: 14 fev. 2022.

  • COSTA, Andrea; AMARAL, Patrícia. Centro Histórico de Natal: guia para turistas e moradores. Natal: Ifrn, 2016. 61 p.

  • TRIBUNA DO NORTE. Restauração e ampliação da Escola de Dança do TAM são finalizadas pelo Governo do RN. Tribuna do Norte, Natal, 19 maio 2021. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/restauraa-a-o-e-ampliaa-a-o-da-escola-de-dana-a-do-tam-sa-o-finalizadas-pelo-governo-do-rn/510761. Acesso em: 14 fev. 2022.

  • AMORIM, Sayonara. Escola de dança do TAM tem obra concluída. Portal do Rio Grande do Norte: Espaço reformado foi entregue hoje ao governo do estado e deverá beneficiar cerca de 500 alunos, Natal, 19 maio 2021. Disponível em: https://portaldorn.com/escola-de-danca-do-tam-tem-obra-concluida/. Acesso em: 14 fev. 2022.

  • TRIBUNADONORTE. Restauração do prédio da EDTAM será retomada. Tribuna do Norte, Natal, 28 jul. 2020. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/restauraa-a-o-do-pra-dio-da-edtam-sera-retomada/485817. Acesso em: 14 fev. 2020.

  • TRIBUNADONORTE. EDTAM ganha vida nova após reforma. Tribuna do Norte, Natal, 20 maio 2021. Disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/edtam-ganha-vida-nova-apa-s-reforma/510799. Acesso em: 14 fev. 2020.

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