
Construída no final do século XIX com o objetivo de compor a linha férrea que ligava Natal à Nova Cruz, a Estação Papary é um das únicas estações deste período que ainda se mantém preservada até os dias atuais. O marcante nome indígena homenageava o nome original do município de Nísia Floresta, Papary, vigente na época da construção da edificação e durante seu auge. A estação ganhou destaque na década de 30, se tornando um importante ponto de desembarque de um produto muito importante para o Rio Grande do Norte. Com o encerramento da atividade férrea, a edificação foi tombada em 1984, sendo reconhecida oficialmente como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Norte. Dez anos após, foi restaurada pela prefeitura local que recebeu críticas por alterações fundamentais na fachada do imóvel. Atualmente, funciona na edificação um restaurante que através da preservação da edificação, além da valorização da cultura e culinária do nosso estado, se tornou um conhecido ponto turístico potiguar. Por causa da riquíssima história e arquitetura desta edificação, a Estação Papary é o tema de hoje da nossa Quinta Potiguar.

A história da Estação Papary se inicia em 1873, com a abertura, pelo então Presidente da Província Dr. João Capistrano Bandeira de Melo Filho, de uma concorrência que buscava contratar uma empresa para construir a ferrovia que ligaria Natal à Vila de Nova Cruz (Freire, 2012). Porém, devido à diversos atrasos, foi apenas em outubro de 1878 que se iniciaram efetivamente as obras da estação sob responsabilidade da Imperial Brazilian Natal and Nova Cruz Railway Company Limited. Desta forma, em 28 de setembro de 1881, o primeiro trecho foi oficialmente inaugurado e este ligava o até então Município de Papary e sua estação homônima à capital Natal, passando por outras estações como a Pitimbu, Cajupiranga e São José de Mipibu, também inauguradas neste mesmo dia. No ano seguinte, foi inaugurado o segundo trecho com mais nove estações, que ampliavam a ferrovia ligando a Estação de Papary à Estação Lagoa de Montanhas. Posteriormente, após a conclusão total da linha férrea que ligava Natal à Nova Cruz, a Great Western of Brazil Railway Company Limited arrendou a linha e passou a administrar seu funcionamento. Em 1939, a Great Westen deixou a administração da linha e esta foi dada à Estrada de Ferro Central do Rio Grande do Norte, que logo transformou a Estação Papary em "[...] um posto de abastecimento de locomotivas" (Freire, 2012), função que teve fim com o surgimento das máquinas de diesel.

Posteriormente, no final da década de 40, o Município de Papary foi renomeado como Município de Nísia Floresta, mas a estação não teve seu nome modificado e permaneceu com o nome anterior da cidade. Ao longo dos anos a estação serviu também como posto telegráfico e no ano de 1976 foram desativados os transportes de passageiros, seguido pelo encerramento dos transportes de cargaem 1981. Em 6 de dezembro de 1984, a Estação Papary foi tombada a nível estadual, sendo reconhecida oficialmente como Patrimônio Histórico do Rio Grande do Norte e em 1994 foi restaurada pela prefeitura, inicialmente seguindo o projeto elaborado pela Fundação José Augusto e infelizmente o modificando posteriormente. As obras tinham como objetivo abrigar na edificação um museu para a cidade, mas até hoje este plano não foi concretizado. Atualmente, a edificação encontra-se em ótimo estado de conservação graças à sua função como restaurante típico potiguar, o Marina's Camarões. O local é amplamente frequentado, tornando-se um ponto turístico que se destaca por aliar a história, arquitetura e culinária típica do Rio Grande do Norte.

Através de fotografias antigas é possível observar que a edificação apresenta uma arquitetura eclética em sua fachada, este estilo arquitetônico vindo da Europa simbolizava a modernidade e expansão da região, sendo um estilo perfeito para estações de trem que, naquele período, contribuíam ativamente para o alcance destes ideais. O Ecletismo se caracterizava pela mistura de estilos do passado e a Estação Papary apresenta em seus traços arquitetônicos a influência dos estilos neogótico e neoclássico. Aqui no Quinta Potiguar nós já falamos sobre outros exemplares que seguem este estilo, como o Solar Bela Vista, a Sede do IPHAN/RN, além de outros exemplares de estações de trem construídas nos mesmo período, como A Estação Ferroviária da Silva Jardim. Desta forma, podemos destacar os seguintes elementos arquitetônicos em sua fachada: a simetria, telhado de quatro águas protegido por platibanda ritmado por merlões e ameias, acesso principal central através de duas portas mais largas e marcados por frontão triangular com óculo redondo ao centro, portas retas encimadas por verga ogival, base da edificação marcada e contrastante, paredes decoradas com massa e colunas falsas. Infelizmente, durante as obras de restauro de 1994, a Prefeitura de Nísia Floresta decidiu adicionar um telhado apoiado por mãos francesas que se projeta acima da antiga área de embarque e desembarque do trem. A decisão do acréscimo de um elemento de grande impacto à composição arquitetônica da edificação foi contestado publicamente pela Fundação José Augusto, que acredita que a edificação foi descaracterizada. De qualquer forma, o elemento foi incorporado à fachada e continua desta forma até os dias atuais.


Em suma a Estação Papary é um exemplar significante do Patrimônio Arquitetônico e Cultural do Rio Grande do Norte que deve ser preservado e valorizado. Felizmente, a edificação encontra-se em ótimo estado de conservação, apesar da adição indevida de um elemento, e em uso, condição essencial para a manutenção de uma edificação. Este prédio teve extrema importância no alcance da tão idealizada modernização e expansão, e por isso, possui um valor histórico imensurável para os potiguares, merecendo ser conhecida, estudada, valorizada e preservada! PRECISAMOS PRESERVAR NOSSO PATRIMÔNIO!

Fontes:
CEARÁ-MIRIM, Barão de. ESTAÇÃO DE PAPARY EM NÍSIA FLORESTA - RN. Francisco Guia Ceará-Mirim, Ceará Mirim, 26 ago. 2013. Disponível em: http://franciscoguiacm.blogspot.com/2013/08/estacao-de-papary-em-nisia-floresta-rn.html . Acesso em: 20 out. 2021.
FERROCLUBE. Estação Papari. Ferroclube, Brasil,24 ago. 2018. Disponível em: http://www.ferreoclube.com.br/2018/08/24/estacao-papari/ . Acesso em: 19 out. 2021.
FREIRE, Luís Carlos. Estação Ferroviária Papary: The Great Western of Brazil railway company limited, os bastidores da história. Nísia Floresta, Nísia Floresta, 20 dez. 2012. Disponível em: http://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com/2012/12/por-muitos-anos-essa-locomotiva.html . Acesso em: 20 out. 2021.
NASCIMENTO, Bira. Marinas Camarões: uma volta no tempo em Nísia Floresta. Restaurante Marinas Camarões, Nísia Floresta, 2016. Disponível em: https://www.marinascamaroes.com.br/ . Acesso em: 19 out. 2021.
RODRIGUES, Washington. Restaurante Marinas Camarões da Estação Papary em Nísia Floresta reabre aos finais de semana. Revista Deguste, 12 maio 2021. Disponível em: https://revistadeguste.com/noticia/restaurante-marinas-camaroes-da-estacao-papary-em-nisia-floresta-reabre-aos-finais-de-semana/ . Acesso em: 19 out. 2021.
GIESBRECHT, Ralph Mennucci. PAPARI (NÍSIA FLORESTA). Estações Ferroviárias do Brasil, Brasil, 06 jun. 2019. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/rgn/papari.htm . Acesso em: 19 out. 2021.
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