
A Estação das Artes Elizeu Ventania é atualmente uma das principais atrações do Corredor Cultural de Mossoró. Construída no início do século XX com o objetivo de compor a linha férrea que ligava a cidade de Mossoró á diversas outras cidades do semiárido nordestino, a Estação representa o desenvolvimento econômico e social da cidade, além de ter tido um papel fundamental durante a invasão de Mossoró pelo bando de Lampião. Com mais de 100 anos de história, a edificação de estilo arquitetônico eclético resiste ao tempo, contando em seus traços a trajetória do povo Mossoroense e da região do Oeste Potiguar. Por causa de sua inegável importância para o Rio Grande do Norte, a Estação das Artes Elizeu Ventania é o tema de hoje da nossa Quinta Potiguar.

Em 1870, surgiu em Mossoró a ideia de ligar a cidade à importante região do rio São Francisco por meio de uma linha férrea privada. Porém, apesar dos esforços de várias personalidades mossoroenses, o projeto não foi à frente por falta de autorização do governo brasileiro e este plano ficou parado até 1912, quando a concessão foi dada para a construção do primeiro trecho da linha entre Porto Franco e Mossoró. Desta forma, foi inaugurada a Estação Ferroviária de Mossoró em 19 de Maio de 1915, em uma localização privilegiada na Avenida Rio Branco, “[...] considerada o coração da cidade por ter grande movimentação de pessoas, comerciantes, turistas e empresários [...]” (CONEDU, 2017). Ao longo do tempo esta linha foi se expandindo, conectando várias cidades do semiárido nordestino. Em 1926 ligou Mossoró à São Sebastião, atualmente o Dix-Sept Rosado, em 1929 alcançou a cidade de Canaúbas, em 1951 chegou a Alexandria e por último, em 1958, ligou Mossoró à cidade de Souza, na Paraíba, local no qual a linha se conectava ao movimentado trecho que ligava as importantes cidades de Recife, Pernambuco, e Fortaleza, no Ceará (Dutra, 2015).


Desta forma, a estação teve uma importância significativa para a cidade, pois trouxe ao povo mossoroense o seu primeiro meio de transporte em massa, conectando a cidade a outros polos e com isso, trazendo desenvolvimento econômico e social para a região. Além disso, no ano de 1927, a estação teve papel fundamental na resistência da cidade de Mossoró à invasão do bando do cangaceiro Lampião, pois foi através de seus trens que grande parte da população conseguiu fugir da cidade e se abrigou com segurança em outros locais enquanto outra parte da população protegia Mossoró dos ataques, sobre esta invasão nós já falamos por aqui no texto sobre o Palácio da Resistência. A estação funcionou por quase 75 anos, com trens mistos sem horário definido que levava e trazia passageiros e cargas. Em 1989, a linha Mossoró – Souza foi desativada permanentemente e seus trilhos, máquinas e trens foram leiloados, resultando na arrecadação de aproximadamente 2,7 milhões de reais aos cofres públicos (CONEDU, 2017). Em 2007, a Prefeitura de Mossoró, juntamente com o Governo do Rio Grande do Norte e o Governo Federal, criou o Corredor Cultural de Mossoró, onde a Avenida Rio Branco passou a ser “[...] um grande complexo de equipamentos de esporte, cultura e lazer da cidade, que busca combater a degradação e esvaziamento urbano, se configurando como a maior obra de requalificação urbana já vista até hoje em Mossoró.” (Almeida, 2020) Desta forma, diversas edificações importantes para a cidade foram restauradas e protegidas, dentre elas, a antiga Estação Ferroviária de Mossoró, reconhecida como uma das principais edificações do Corredor Cultural por sua importância histórica, arquitetônica e cultural. Desde então, a edificação possui o nome de Estação das Artes Elizeu Ventania, em homenagem ao famoso poeta e cancioneiro da região. A estação passou a abrigar o Museu do Petróleo, um auditório, galeria de artes e espaço para exposições, além de sediar shows artísticos, a famosa apresentação do Auto da Liberdade e a maior festa popular da cidade, o ‘Mossoró Cidade Junina’. Em 2019, por causa de problemas estruturais, a Estação foi temporariamente interditada pelo Corpo de Bombeiros, mas atualmente já se encontra em funcionamento, aberta à visitação pública.

Felizmente, não houveram mudanças significativas que descaracterizassem a arquitetura da Estação ao longo do tempo. A edificação possui originalmente em sua fachada traços ecléticos, estilo vindo da Europa caracterizado pela mistura de outros estilos arquitetônicos do passado e que simbolizava a modernidade e expansão do Rio grande do Norte no início de século XX. Sendo as linhas férreas e suas estações um dos maiores catalizadores destes ideais na região, este estilo foi muito utilizado em prédios com esta função, como por exemplo na Estação Papary e na Estação Ferroviária Silva Jardim, edificações já abordadas aqui na Quinta Potiguar. A Estação das Artes Elizeu Ventania apresenta uma arquitetura eclética influenciada principalmente pelo estilo neoclássico. Desta forma, podemos destacar os seguintes elementos arquitetônicos em sua fachada: a simetria, entrada principal ao centro da edificação marcado por volume central com andar superior, encimado por platibanda balaustrado com decoração em massa ao centro, telhado dos volumes térreos protegido por platibanda contínuo e sem decoração, portas e janelas de madeira e vidro com traços retos e verga em arco abatido e decoração em massa ao redor das esquadrias do volume central.

Por fim, a Estação das Artes Elizeu Ventania é um belíssimo exemplo de uma construção com importância histórica e arquitetônica que resistiu ao tempo e continua preservada e em uso. Além disso, juntamente com o Corredor Cultural de Mossoró, a Estação prova que a restauração e a ressignificação do uso de uma edificação pode ser um projeto de sucesso e progresso para uma cidade. Por isso, NÓS PRECISAMOS PRESERVAR O NOSSO PATRIMÔNIO!

Fontes:
ALMEIDA, Magno Everton Dantas de. O CORREDOR CULTURAL DE MOSSORÓ E A USABILIDADE DOS IMÓVEIS DA AVENIDA RIO BRANCO. 24 f. Estágio Supervisionado I - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Paraíba, PB. Disponível em: http://www.ct.ufpb.br/ccau/contents/documentos/estagio-supervisionado-i/acervo-virtual-estagio-supervisionado-i-2019.2/magno-everton-dantas-de-almeida-corredor-cultural-de-mossoro-e-a-usabilidade-dos-imoveis-da-avenida-rio-branc.pdf . Acesso em: 04 nov. 2021.
DAMASCENO, Edilson. 100 Anos: Estação Ferroviária - Templo da Cultura Mossoroense. Cariri Cangaço, Mossoró, abr. 2015. Disponível em: http://cariricangaco.blogspot.com/2015/04/100-anos-estacao-ferroviaria-templo-da.html . Acesso em: 31 out. 2021.
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 4., 2017, Rio Grande do Norte. ESTAÇÃO DAS ARTES ELISEU VENTANIA. Natal: CONEDU, 2017. 4 p. Disponível em: file:///C:/Users/DELL/Downloads/TRABALHO_EV073_MD4_SA2_ID610_07092017204616.pdf . Acesso em: 31 out. 2021.
LEITE, Walter. Museu do Petróleo localizado na cidade de mossoró. Vá Conferir, Mossoró, jan. 2017. Disponível em: https://vaconferir.com.br/museu-do-petroleo/ . Acesso em: 31 out. 2021
VALE, Caio. Estação das Artes Elizeu Ventania completa 20 anos. Mossoró Notícias, Mossoró, 25 set. 2019. Disponível em: https://mossoronoticias.com.br/cotidiano/estacao-das-artes-elizeu-ventania-completa-20-anos . Acesso em: 31 out. 2021.
PREFEITURADEMOSSORÓ. Programação cultural do mês de julho homenageia Elizeu Ventania. Prefeitura de Mossoró, Mossoró, 03 jul. 2020. Disponível em: https://www.prefeiturademossoro.com.br/index.php/noticia/programacao-cultural-do-mes-de-julho-homenageia-elizeu-ventania . Acesso em: 31 out. 2021.
ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS. Trem de Mossoró a Souzas: (Rio Grande do Norte / Paraíba). Estações Ferroviárias, Brasil, s.d. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br/trens_ne/mossoro-souza.htm . Acesso em: 31 out. 2021.
PRAXEDES, Vonúvio. Bombeiros interditam parte da Estação das artes em Mossoró. Diário Político: A verdade da Informação, Rio Grande do Norte, 11 dez. 2018. Disponível em: https://diariopolitico.com.br/bombeiros-interditam-parte-da-estacao-das-artes-em-mossoro/ . Acesso em: 31 out. 2021.
DUTRA, Aluisio. História da Linha Ferroviária Mossoró-Souza. A Folha Patuense: A notícia com credibilidade, Patu, 19 set. 2015. Disponível em: http://aluisiodutra.blogspot.com/2015/09/historia-da-linha-ferroviaria-mossoro.html . Acesso em: 31 out. 2021.
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