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  • Foto do escritorJúlia Chaves

O Palacete da Viúva Machado - Natal/RN


O Palacete da Viúva Machado é uma belíssima edificação em Estilo Eclético localizada na cidade de Natal. Foi construída no início do século XX com as melhores técnicas e materiais existentes vindos diretamente da Europa e tinha como objetivo ser um residência, função que mantém até os dias atuais. A imponente edificação foi construída pelo comerciante Jorge Maranhão, mas poucos anos depois foi vendida para o português Manoel Machado, rico comerciante dono da bem sucedida 'Casa Machado'. Durante 14 anos a residência foi palco de bailes, jantares e celebrações da sociedade natalense, porém com a morte do Sr. Machado, a edificação ficou para sua esposa, Dona Amélia Machado, que viveu ali de forma reclusa por mais de 50 anos até sua morte. Por seus hábitos discretos e solitários, além de sua posição de comando diante dos negócios do marido (algo que não era comum para uma mulher), foram espalhados em Natal diversos boatos maldosos, tornando-a conhecida por Viúva Machado. Portanto, com sua história riquíssima e sua arquitetura original lindamente preservada, o Palacete da Viúva Machado é o tema de hoje do Quinta Potiguar.

Detalhe entrada da edificação - Fonte: Brechando

O imponente palacete localizado em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, foi construído em 1910 com o objetivo de ser a residência do comerciante Jorge Barreto Albuquerque Maranhão, irmão do Governador do Rio Grande do Norte, Alberto Maranhão. A edificação, assim como o Solar Bela Vista, foi construída com o maior requinte, utilizando os materiais vindos diretamente da Europa, como descrito pela escritora Maria de Fátima Medeiros, "eram grades, colunas de ferro, portas, janelas, móveis e até estatuetas de bronze, simbolizando duas estações do ano, importadas de Paris só para decorarem o Palacete" (1999). No ano de 1920, a edificação foi vendida para o bem sucedido comerciante Manuel Machado e sua esposa, Dona Amélia Machado, donos da 'Casa Machado', uma das principais lojas da cidade. O casal viveu na edificação por 14 anos até o falecimento do Sr. Manuel Machado que deixou como herança para sua esposa o palacete e as diversas propriedades que adquiriram ao longo do tempo, dentre elas o Solar Ferreiro Torto. A Sra. Amélia Duarte de Machado passou a comandar os negócios do marido e continuou a viver sozinha na residência por quase 50 anos. Por ser uma mulher que vivia sozinha, comandava um comércio e possuía hábitos reservados, criou-se na cidade uma lenda em torno de seu nome e desta forma a edificação eclética ficou conhecida como Palacete Viúva Machado.

D. Amélia Machado - Fonte: Freire, 2017

A lenda da Viúva Machado assombrou a cidade de Natal durante a segunda metade do século XX. Dona Amélia Duarte de Machado era potiguar, nascida em 1881 e viúva do rico comerciante Manoel Machado. Naquela época, em uma Natal provinciana, não era comum existir mulheres em posição de comando ou morando sozinhas, mas a Sra. Machado não possuía filhos e após a morte do marido teve que continuar morando sozinha no palacete e tomar a frente os negócios do marido. Diante desse cenário, iniciou-se a circulação de alguns boatos na cidade sobre como Dona Amelia podia ser "autoritária e mandona", e por consequência desses rumores, a Viúva Machado passou a ficar cada vez mais reclusa. Infelizmente, este hábito aliado ao fato de não ter herdeiros, gerou um outro boato de que a viúva 'comia o fígado de crianças para se manter viva' e de que possuía uma doença que a deformava. Rapidamente este rumor se espalhou e virou uma lenda em Natal, sendo relembrado continuamente por muitas mães da época de "forma educativa" para seus filhos. Dona Amélia Machado já chegou a ser agredida verbalmente por pessoas na rua e desta forma se manteve cada vez mais reclusa, falecendo aos 100 anos de idade. Atualmente, o palacete ainda pertence à sua família e encontra-se em bom estado de conservação.

A arquitetura do imponente palacete assobradado é em Estilo Eclético, muito comum em Natal no início do século XX. Em virtude do Estilo Eclético ser uma mistura de estilos, o palacete apresenta características do Art Decó e Art Nouveau em sua arquitetura. Desta forma, podemos destacar a presença de recuos em relação ao limite do lote, o que formam belíssimos jardins. Já em relação à fachada observemos as falsas colunas, a falsa varanda, a utilização de bandeiras em formas geométricas como o arco e quadrado, a utilização de guarda-corpos em ferro decorados, a utilização de platibanda para cobrir o telhado, frisos retos na parede a cobertura em ferro com formas orgânicas para destaque da porta de entrada da edificação.

Arquitetura - Fonte: editado pela autora

Em suma o Palacete da Viúva Machado é uma edificação de extrema importância para o Rio Grande do Norte por ter uma história riquíssima, ter abrigado conhecidas e importantes figuras natalenses e se manter preservado quanto sua arquitetura original em estilo eclético. Diante das recentes notícias desastrosas da demolição de uma edificação também eclética na cidade de Caicó, é de extrema importancia que nós procuremos conhecer mais e assim valorizar este exemplar natalense para que não cometamos o mesmo erro no futuro. PRECISAMOS PRESERVAR NOSSO PATRIMÔNIO, e consequentemente nossa história, para que avancemos como sociedade!



 

Fontes:

Teses e livros:

  • COSTA, Andréa. Centro Histórico de Natal: Guia para Turistas e Moradores. Natal: IFRN, 2014. 61p.

  • MEDEIROS, Elaine Albuquerque de. A (Re)Leitura de um Documento: O Processo de Tombamento do Centro Histórico de Natal (RN). 2014. 190 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

  • MEDEIROS, Maria de Fátima. Natal: patrimônio histórico e cultural. Natal/RN: Fuly Editora, 1999. 133 p

Sites:

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