A Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é a segunda igreja mais antiga de Natal. Construída no início do século XVIII por escravos, a edificação tinha como objetivo ser um templo católico para a população negra do Rio Grande do Norte e por isso, homenageia em seu nome a Nossa Senhora do Rosário. A edificação foi construída mais afastada do núcleo urbano daquela época e com uma arquitetura simples e de poucos adornos. Nos séculos seguintes, foi alterada e ampliada recebendo acréscimos como a torre sineira e outras estruturas e na década de 1980 foi tombada e restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Atualmente, encontra-se novamente em processo de restauro, sendo uma das igrejas mais belas do circuito histórico de Natal. Por sua importância histórica, arquitetônica e cultural, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é o tema de hoje do Quinta Potiguar.
Uma das irmandades brasileiras consagradas pela Igreja Católica no período colonial foi a Irmandade Nossa Senhora do Rosário, devotos da santa protetora dos pretos, escravos e libertos que estava presente em todo o território nacional. Não se sabe ao certo a data de criação da irmandade em Natal, mas de acordo com documentos oficiais é fato que em 1706 “[...] a confraria já fazia festas para recolher doações para a construção de sua igreja.” (Soares, 2019). Desta forma, a belíssima Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e o imponente cruzeiro à sua frente foram erguidos pelos próprios escravos em 1714, se tornando a segunda Igreja mais antiga de Natal. De acordo com o escritor Francisco Oliveira (2019) a edificação era extremamente importante para a população negra da cidade pois “[...] era a única ‘alegria’ oficialmente concedida aos escravos locais”. É certo que atualmente podemos considerar sua localização privilegiada por ser no centro, em um dos pontos mais altos da cidade e com uma belíssima vista do Rio Potengi. Porém, no período de sua construção o terreno escolhido não era em um local favorável, pois estava fora do centro cidade que basicamente se concentrava na Praça André de Albuquerque, tendo como principal edificação a Igreja Matriz exclusivamente utilizada por brancos no período colonial (sobre a Igreja Matriz você pode conferir o texto sobre ela na Quinta Potiguar clicando aqui). Esta marginalização dos negros pela sociedade também fez com que informações e documentos sobre a edificação fossem apagados ao longo do tempo, o que dificulta o entendimento da mesma e a sua valorização por parte da população e do turismo, afetando assim a sua preservação. O escritor Luís da Câmara Cascudo foi um dos maiores pesquisadores da Igreja e seus livros escritos nos meados do século XX são atualmente as principais fontes de informações. Em 1844 a ala lateral foi acrescida à edificação e em 1904 foram adicionadas a sacristia e a torre.
Em 1988, a edificação foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e passou por grande intervenção de restauração que trouxe para a edificação características arquitetônicas originais perdidas ao longo do tempo. Infelizmente em abril de 2021, a edificação sofreu ataques de vândalos que destruíram imagens sacras e roubaram objetos litúrgicos. Atualmente, a Igreja encontra-se novamente sendo restaurada pelo IPHAN como parte do projeto de revitalização do centro histórico de Natal, mas mesmo assim está aberta para visitação todos os dias das 14h ás 17hs e ás 9hs da manhã dos domingos é celebrada a Missa em Latim de acordo com o Rito tradicional Católico Romano (Silva, 2021). Para o Professor Dr. Lenin Campos Soares “[...] A igreja tem uma das vistas do rio Potengi mais bonitas da cidade, principalmente para se admirar ao pôr-do-sol.” (2019). Por tudo isso, este monumento merece ser visitado por todos os potiguares.
A arquitetura da Igreja segue claramente as características do estilo colonial com influência do estilo barroco. Por ser uma igreja construída por escravos e para a população negra, infelizmente marginalizada pela população, sua arquitetura é mais simples se comparada a outras igrejas do mesmo período, possuindo assim menos elementos arquitetônicos decorativos. É importante ressaltar que após a adição posterior da torre na lateral, a fachada da Igreja passou a não ser mais simétrica e essa diferença entre as datas de construção das duas estruturas fica evidente na diferença de altura entre as esquadrias da torre sineira e do ‘corpo’ principal da igreja. No ‘corpo’ podemos destacar o frontão triangular com volutas, pináculos e abertura ao centro, encimado por crucifixo; duas janelas de madeira retas e com verga em arco abatido na altura do coro, porta central também em madeira, reta e com verga em arco abatido, cornija simples e contínua, colunas ornamentais nas duas extremidades, além de nenhuma decoração nas paredes. Quanto à torre sineira podemos destacar a presença de três andares, estando os sinos no último pavimento, a presença de um óculo no andar intermediário, colunas ornamentais nas quatro extremidades encimados por pináculos, cobertura em forma de pirâmide, porta no térreo de madeira e reta, aberturas, nos demais pavimentos, são retas com vergas em arco pleno, cornija reta.
Em suma, a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos é uma edificação de inigualável valor histórico, arquitetônico e cultural para a cidade de Natal e para o Rio Grande do Norte. Sua arquitetura única conta em seus traços a resistência, a fé e cultura negra no nosso estado. Com mais de 300 anos de história, esta edificação precisa ser visitada, preservada e compreendida pelos potiguares. PRECISAMOS VALORIZAR NOSSO PATRIMÔNIO!!
Fontes:
OLIVEIRA, Francisco Isaac D. de. A Igreja De Nossa Senhora Do Rosário Dos Pretos Como Espaço De Memória. Revista Relicário, Uberlândia, v. 6, n. 12, p. 199-220, jul. 2019.
SILVA, Erika Raiane da. PODCAST / IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS PRETOS: um estudo de caso. 2021. 55 f. TCC (Graduação) - Curso de Comunicação Social – Habilitação em Audiovisual, Departamento de Comunicação Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2021.
SOARES, Por Prof. Dr. Lenin Campos. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Natal das Antigas, Natal, 19 jan. 2019. Disponível em: https://www.nataldasantigas.com.br/blog/nossa-senhora-do-rosario-dos-pretos. Acesso em: 29 nov. 2021.
TEIXEIRA, Kleber; JÁCOME, Igor. Igreja histórica é arrombada três vezes em 10 dias em Natal. Intertv Cabugi e G1 Rn, Natal, 07 maio 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2021/05/07/igreja-historica-e-arrombada-tres-vezes-em-10-dias-em-natal.ghtml. Acesso em: 29 nov. 2021.
PAIVA, Lara. Um pouco sobre a Igreja do Rosário. Brechando, Bahia, 25 nov. 2015. Disponível em: https://brechando.com/2015/11/um-pouco-sobre-a-igreja-do-rosario/. Acesso em: 29 nov. 2021.
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