No local onde hoje encontra-se o shopping CCAB Norte, na esquina entre a Av. Afonso Pena e R. Potengi, existiu na década de 1960 e 1970 uma icônica edificação modernista que foi símbolo dos maiores eventos da capital neste período. De autoria de um arquiteto potiguar, a belíssima Sede Social pertencia a um dos mais importantes times de futebol do Rio Grande do Norte, o ABC Futebol Clube. Ponto de encontro da população, a edificação infelizmente foi demolida com pouco menos de 20 anos após sua construção para dar lugar ao shopping que vemos hoje. Porém, mesmo com a breve história, esta edificação marcou o Rio Grande do Norte por sua importância principalmente cultural e arquitetônica e é por causa disso que a Sede Social do ABC F.C. é o tema de hoje da nossa Quinta Potiguar.
O ABC Futebol Clube foi fundado em 1915 em uma sede administrativa improvisada na Ribeira. Menos de uma década depois, devido a necessidade de um espaço maior e organização, a instituição adquiriu um terreno de grandes dimensões e com ótima localização no nobre e recém projetado bairro de Petrópolis. Foi ali, ao lado do Atheneu, onde a instituição estabeleceu sua segunda sede que continha um campo de futebol para o time profissional, espaço administrativo e também estrutura para possível expansão futura. Desta forma, na década de 1950, com o crescimento da popularidade do clube ao longo dos anos, surgiu a necessidade de expansão através da construção, em um terreno no quarteirão vizinho, de uma Sede Social ampla que comportasse as necessidades do time, mas que também fosse utilizada como clube pelos seus membros e tivesse espaço para receber eventos importantes da cidade. O arquiteto potiguar Aguinaldo Muniz foi o escolhido para projetar a Sede que foi inaugurada em 31 de janeiro de 1959, sob a administração do Dr. Ernani Alves da Silveira. A edificação imponente com belíssimos traços modernistas logo se tornou um dos mais cobiçados pontos de encontro da sociedade. Disputando eventos importantes com os clubes do América e ASSEN que foram construídos no mesmo ano, a Sede Social possuía uma das primeiras piscinas em clubes de Natal, restaurante, quadras esportivas e além disso, foi palco de “[...] shows de renomados artistas nacionais, bailes de formatura, memoráveis carnavais, congressos [...]” (Wanderley, 2021). O publicitário Minervino Wanderley em seu texto para o site Pense! Numa História (link da matéria), recorda que “[...] a bela e recheada sala de troféus era uma atração à parte. Na quadra esportes ocorriam movimentações de várias modalidades. [...] As matinês nas domingueiras atraiam a juventude.” (Wanderley, 2021). Já o arquiteto Carlos Ribeiro Dantas, relembra da belíssima volumetria da edificação e detalhes como o acesso a mesma que se dava através de uma rampa e que no pavimento superior funcionava uma boate. Contudo, menos de 20 anos após sua construção, o ABC se mudou para outra sede no bairro Morro Branco e a edificação foi rapidamente demolida pelo novo proprietário para a construção, em 1979, do Centro Comercial Aloízio Bezerra (CCAB). Esta demolição é mais um caso que comprova a dificuldade dos cidadãos potiguares em reconhecer a arquitetura modernista como patrimônio arquitetônico brasileiro e consequentemente em valorizá-la, como já abordado aqui na Quinta Potiguar diante do caso do Hotel Reis Magos - O Patrimônio Apagado (link) e toda a problemática diante de sua demolição. Atualmente, são poucas as fotografias, informações e os relatos disponíveis dessa edificação belíssima, fatos que aumentam a preocupação com a preservação de edificações remanescentes desta época e deste estilo no RN que encontram-se em estado de deterioração ou sofreram modificações que reduzem seu valor arquitetônico.
De qualquer forma, quanto a arquitetura da Sede Social do ABC se destacava por possuir o estilo arquitetônico puramente modernista. Este estilo se popularizou no Rio Grande do Norte exatamente na década de 1950 e é marcado pelo uso de concreto, elementos curvos, volumes bem definidos e permeabilidade. A edificação sede do ABC em Petrópolis se destacava arquitetonicamente por apresentar três blocos bem definidos, o bloco maior possuía linhas retas, janelas envidraçadas grandes e cobertura não aparente protegida por platibanda liso; o bloco intermediário também possui linhas retas e cobertura protegida por platibanda, além de fazer o uso de brise para a proteção solar do corredor de acesso ao interior da edificação e ter o formato mais quadrado e o bloco menor que possui uma fachada curva com janelas envidraçadas ainda mais generosas que acompanham esta curvatura, além de estar suspenso por um pilotis que trazia para o complexo a sensação de permeabilidade e apresentar cobertura plana com paredes lisas sem adornos. O muro que delimitava o terreno era baixo, sendo a parte de cima composta por cobogós. E por último, a entrada de carros em formato de semicírculo, volumetria arrojada e incomum.
Em suma, a Sede Social do ABC é o exemplo de uma edificação potiguar com extrema importância no âmbito histórico, cultural e arquitetônico que infelizmente não resistiu ao tempo e a desvalorização de sua arquitetura por parte de sua população. Este texto tem o objetivo de reunir as raras informações desta construção que fez parte da nossa história para que a mesma não se perca definitivamente da história do nosso estado. Se os registros construtivos não mais existem, que pelo menos continuemos divulgando os relatos, fotos e lembranças desta incrível e importante edificação. Fica aqui o alerta para que valorizemos e ajudemos a preservar edificações como o esta, que contam em seus traços a nossa história. PRECISAMOS PRESERVAR O NOSSO PATRIMÔNIO!!!
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