Igreja Matriz N. Sra. da Apresentação / A Antiga Catedral - Natal
- JĆŗlia Chaves
- 30 de abr. de 2021
- 4 min de leitura

Localizada em frente Ć PraƧa AndrĆ© de Albuquerque, marco zero da cidade do Natal, a Igreja Matriz N. Sra. da Apresentação Ć© a igreja mais antiga do Rio Grande do Norte. Acredita-se que foi construĆda no ano de 1619, no local onde foi realizada a missa comemorativa da fundação da cidade do Natal. Durante os 21 anos da invasĆ£o holandesa no sĆ©culo XVII, foi utilizada como templo calvinista, sendo totalmente destruĆda pelos mesmos previamente Ć retomada do domĆnio portuguĆŖs no RN. Após esta destruição, a edificação voltou a ser a Igreja Matriz católica, sendo reconstruĆda e finalizada em 1694. Ao longo do tempo sofreu muitas ampliaƧƵes, atĆ© a construção da torre em 1862. Teve como pĆ”roco, no fim do sĆ©culo XIX, o ilustrĆssimo Padre JoĆ£o Maria e no inĆcio do XIX sofreu a sua mais drĆ”stica modificação, quando recebeu elementos neogóticos que desconfiguraram sua fachada. Em 1988, o tĆtulo de catedral do Natal mudou para uma nova edificação, e a Igreja N. Sra. da Apresentação passou a ser conhecida como a Antiga Catedral. Na sequĆŖncia, a estrutura foi tombada e restaurada, sendo retomadas as caracterĆsticas originais da fachada. Em seus mais de 400 anos de história, a Igreja Matriz presenteia o RN com sua beleza, trazendo em seus traƧos a nossa história, e por isso foi escolhida como tema da nossa Quinta Potiguar de hoje.
No ano de 1601, 2 anos após a construção do Forte dos Reis Magos, foi criada por meio de alvarĆ” da Coroa Portuguesa, a primeira Paróquia potiguar Nossa Senhora da Apresentação. Contudo, nĆ£o se sabe ao certo o ano exato da construção da Igreja Matriz N. Sra. da Apresentação, embora acredite-se que a edificação foi concluĆda em 1619. Sua localização foi estratĆ©gica, no exato local onde foi realizada a missa comemorativa da fundação da cidade do Natal, e Ć frente de onde atualmente se encontra a famosa PraƧa AndrĆ© de Albuquerque, considerado o marco zero da capital potiguar. De acordo com a superintendente do IPHAN/RN, Jeanne Nesi (2020), a edificação foi "[...] constituĆda inicialmente apenas de capela mor, [e] ao longo dos sĆ©culos, [foi] sendo ampliada, seguindo o traƧado previamente elaborado no projeto inicial de 1599." Do final do ano de 1633 Ć 1654, o Rio Grande do Norte esteve sob o domĆnio dos holandeses (nós jĆ” falamos sobre esse acontecimento no texto sobre a Fortaleza dos Reis Magos, o Engenho CunhaĆŗ e o Solar Ferreiro Torto) e neste perĆodo, por 21 anos, a Igreja Matriz católica se tornou um templo calvinista. Antes da retomada portuguesa, os holandeses destruĆram totalmente a Igrejinha modesta, sendo necessĆ”ria a reconstrução do templo, obra concluĆda apenas em 1694. Em 1862 foi construĆda sua torre, e entre os anos de 1890 e 1904, a Igreja teve como pĆ”roco o Padre JoĆ£o Maria, aclamado atĆ© os dias atuais pelos fiĆ©is (sobre ele falamos mais no texto sobre a Casa Pe. JoĆ£o Maria).

No sĆ©culo XIX, a Igreja Matriz N. Sra. da Apresentação foi muito modificada. Em 1909 recebeu altares laterais e vĆ”rios adornos arquitetĆ“nicos de estilo neo-gótico, o que descaracterizou totalmente seu estilo colonial original (AraĆŗjo, s.d.). O relato do escritor Manoel Onofre JĆŗnior, de 1984, mostra suas percepƧƵes sobre estas alteraƧƵes: "[...] [A Catedral] veio sofrendo, atravĆ©s dos tempos, ampliaƧƵes e remodelaƧƵes que o desfiguraram totalmente. Da mistura de estilos resultou aspecto lamentĆ”vel." (Onofre Junior, 1984). Relatos como este eram comuns e mostram que população encontrava-se insatisfeita com as alteraƧƵes na arquitetura da Igreja. Em 1988, o tĆtulo de catedral do Natal foi transferido para um novo prĆ©dio e a Igreja Matriz passou a ser conhecida como A Antiga Catedral. Finalmente, em 30 de julho de 1992, o templo religioso foi tombado a nĆvel estadual, momento em que se iniciou um grande processo de restauração que trouxe Ć fachada da edificação religiosa seus traƧos "originais". Esta restauração foi de extrema importĆ¢ncia para a preservação e conservação deste bem histórico potiguar, devolvendo Ć edificação a conexĆ£o com a população local, porĆ©m, abro novamente o debate quanto a validade das restauraƧƵes que possuem o objetivo de retorno a uma originalidade onde jĆ” nĆ£o existem mais os mesmos materiais e tĆ©cnicas construtivas foram modificadas. Todavia, durante as obras de restauro, foram encontrados no interior da igreja os restos mortais do revolucionĆ”rio AndrĆ© de Albuquerque MaranhĆ£o, morto no interior do Forte dos Reis Magos acusado de conspiração na Revolução Republicana de 1817.
Após a restauração realizada, Ć© inegĆ”vel notar que a catedral voltou a ter caracterĆsticas do estilo arquitetĆ“nico colonial. As vergas das esquadrias voltaram a ser retas, como originalmente, as janelas Ć esquerda foram substituĆdas por uma torre de sino. TambĆ©m podemos destacar como caracterĆsticas do estilo colonial a simetria da edificação, seus traƧos retos, a presenƧa de poucos adornos, janelas na altura do coro, planta-baixa e fachada simples. Ć importante ressaltar tambĆ©m a influĆŖncia do estilo maneirista e barroco, com a presenƧa da rosĆ”cea ao centro, que 'quebra' a cornija e um frontĆ£o com bordas abauladas.

Em conclusĆ£o, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Apresentação Ć© uma edificação de influĆŖncia direta na história do Rio Grande do Norte, pois seus traƧos e sua trajetória de mais de 400 anos contam os eventos mais marcantes do nosso povo desde o inĆcio de nossa colonização, mais precisamente da missa fundamental da cidade. Apesar das inĆŗmeras modificaƧƵes ao longo do tempo, felizmente possuĆmos nossa primeira Igreja em ótimo estado de conservação, em uso e fazendo parte diariamente da vida de milhares de potiguares. Este patrimĆ“nio extremamente importante e merece ser conservado para continuar contando as incrĆveis histórias do passado. VAMOS PRESERVAR NOSSO PATRIMĆNIO!
Livros:
MEDEIROS, Maria de FÔtima. Natal: patrimÓnio histórico e cultural. Natal/RN: Fuly Editora, 1999. 133 p
MEDEIROS, TarcĆsio. Estudos de História do Rio Grande do Norte. Natal: Tipografia Santa Cruz, 2001.272p
NESI, Jeanne Fonseca Leite. Caminhos de Natal. 2. ed. Natal: Iphan, 2020. 125 p.
ONOFRE JUNIOR, Manoel. BreviƔrio da Cidade do Natal. 2. ed. Natal: Clima, 1984. 147 p.
Sites:
ARAUJO, Henrique. Esta foi a primeira igreja do RN e aqui estĆ£o 7 curiosidades sobre ela. Natal /Rn: Curiozzzo.Com. DisponĆvel em: https://curiozzzo.com/2017/12/20/esta-foi-a-primeira-igreja-do-rn-e-aqui-estao-7-curiosidades-sobre-ela/ . Acesso em: 27 abr. 2021.
ARQUIDIOCESE DE NATAL. Paróquia de Nossa Senhora da Apresentação ā Cid. Alta ā Natal. Arquidiocese de Natal, Natal. DisponĆvel em: https://arquidiocesedenatal.org.br/local/paroquia-de-nossa-senhora-da-apresentacao . Acesso em: 27 abr. 2021.